Por Coletivo de Comunicação MAM-BA

Imagine você conviver com o barulho do maquinário intenso da mineração o dia todo. De segunda a sábado, o pó é espalhado pelo vento para dentro das casas e plantações e, principalmente, no momento das detonações, que oferecem um grande perigo à vida das pessoas, plantas e animais que ficam próximas dessas áreas.

Essa é a realidade vivida no Alto Sertão baiano, com as obras da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL), iniciadas em 2014, que vêm causando diversos transtornos e prejuízos em comunidades campesinas como Curral Velho, no município de Caetité. O dano mais visível consiste nas moradias danificadas pela chuva de pedras das explosões comuns no processo de extração mineral. Sem nenhuma indenização ou retratação da empresa responsável, a recorrência dos fatos fez com que cinco famílias mudassem de endereço por causa da obra encabeçada pela estatal Valec, recentemente leiloada e comprada pela Bahia Mineração (BAMIN).

A vida da comunidade tem sido um desgastante transtorno, devido à construção da ferrovia que serve para transportar o minério extraído da mina Pedra de Ferro, da BAMIN. As obras da FIOL trazem prejuízos ao desenvolvimento agrícola e à saúde das pessoas, que se sentem reféns desta obra.

Em Curral Velho vivem 144 famílias garantindo sustentabilidade alimentar e econômica para a região, produzindo feijão, milho, hortaliças e temperos. Eles criam gados, suínos, galináceos e frutíferas, tudo em um sistema de produção familiar para consumo próprio e comercialização em feiras locais. ”A poeira cai nas roças de feijão, tomate, nas roupas que estão secando no varal, dentro de casa. Meu menino ficou doente por conta da poeira, gastei o que não tinha. Tá tudo muito difícil”, diz Vanda, moradora da comunidade de Curral Velho.

Dona Vanda (Foto: Ione Rochael/Comunicação MAM)

Há sete anos, moradores reclamam das perdas e danos causados pelas obras da ferrovia no Sertão da Bahia, que como consequência deixam casas quebradas, telhados furados, estruturas rachadas, pó de pedra nas lavouras, gado remanejado de lugar, caixas d’águas destruídas e inúmeras perdas materiais e psicológicas, que impactam diretamente na qualidade de vida desta comunidade. “Meus filhos não podem ficar sem internet porque eles estudam. Preciso instalar mas como que instala desse jeito? Para depois virem as detonações e quebrarem tudo?”, questiona Lucidalva, que mora na comunidade de Invernada, outra que também está na rota das detonações.

Dona Lucidalva (Foto: Ione Rochael/Comunicação MAM)

POEIRA TRAIÇOEIRA
O modelo de mineração no Brasil tem se mostrado danoso para a população em todas as fases da mineração, são atividades que exacerbam os conflitos socioambientais notadamente no que se refere à especulação fundiária, ao uso dos recursos hídricos, à imigração com seus consequentes efeitos sobre os serviços públicos de saúde, educação, segurança e habitação e os impactos sobre o patrimônio material e imaterial e a qualidade de vida das comunidades.

São vários os problemas e danos causados para a comunidade que passa a conviver a partir da chegada de uma mineradora como a BAMIN. O barulho das explosões, da movimentação de trens e caminhões ou do mineroduto têm sido queixas constantes nos territórios. O barulho gera estresse e sofrimento mental, além de afetar também os animais.

Retratos das detonações em Caetité (BA). Fotos: Ione Rochael/Comunicação MAM)

Os caminhões e trens são também causadores de acidentes graves e fatais, sobretudo com crianças e idosos, que possuem uma menor mobilidade diante do perigo. “A poeira oriunda das explosões é um grande problema que vai desde o aumento do trabalho das mulheres para cuidarem das casas e da família até o surgimento de doenças respiratórias e de pele. Ela suja a roupa, suja a casa, suja a água, suja as plantas e tudo mais que está em volta da mineração. Polui o ar e a terra causando doenças, gera novos adoecimentos respiratórios ou agravamento das doenças respiratórias já existentes, sobretudo em crianças e idosos”, afirma Marta de Freitas, da coordenação nacional do Movimento pela Soberania Popular na Mineração.

O descaso é enorme e revela a falta de responsabilidade destas empresas para com a população local. Ainda assim, a sociedade acredita e espera que órgãos responsáveis tomem as medidas cabíveis fazendo com que a empresa responsável pela obra arque com os prejuízos causados à comunidade de Curral Velho, bem como a todas as outras comunidades que a FIOL traz prejuízos ao longo da sua atuação.