É com muito pesar que o Movimento Pela Soberania Popular na Mineração (MAM) vem a público comunicar o falecimento do companheiro João Rodrigues da Silva, conhecido como Seu João Coco, morador da comunidade do Passa Sete no município de Conceição do Mato Dentro. Nos solidarizamos à sua companheira e esposa, Dona Creuza, aos amigos/as e familiares, neste momento de dor e tristeza.

Seu João Coco e Dona Creuza, lutam há anos contra as violações de direitos e danos causados pelo Projeto Minas-Rio da mineradora Anglo American. A casa deles se encontra há poucos quilômetros da barragem de rejeitos do empreendimento, motivo pelo qual sempre lutaram pelo direito ao reassentamento e acesso à água.

A história do casal sensibilizava muitas pessoas e despertava um sentimento de profunda indignação, pois além de conviver cotidianamente com o medo do rompimento da barragem, por muito tempo eles precisaram caminhar até a casa dos vizinhos, atravessando uma pinguela sobre o rio Passa Sete contaminado pelos rejeitos da mineradora, para buscar a água que usavam para beber, cozinhar e demais usos da vida. A água do rio já não pode mais ser utilizada: as nascentes que abasteciam a família secaram com a implantação do empreendimento da Anglo American. E é na casa da família vizinha que ainda existe a única bica d’água da região. Seu João Coco, já de idade, carregava galões de água nos ombros até em casa e fazia isso algumas vezes por dia, situação que foi denunciada por muitas vezes aos diversos órgãos públicos e também pelo MAM.

Ele era um homem firme, camponês de poucas palavras, que não perdia uma luta. Sempre estava lá, incansável na defesa de sua comunidade, em todas as reuniões, audiências públicas e atividades.

Certa vez, em 2017, em um intercâmbio com companheiros de vários países da África, que visitavam a região para conhecer a realidade do povo em conflito com a mineração, organizamos um mutirão de solidariedade para levar água para Dona Creuza e Seu João Coco. Fomos recebidos com muita alegria e gratidão! Ficamos ali por horas, rodeando o fogão a lenha, de onde saiam café e quitandas preparados por Dona Creuza. Um dos companheiros da Zâmbia disse, ao se despedir, que sentia em casa, tamanha a semelhança daquela senhora e daquele senhor com seu povo, e por se sentir aconchegado pela receptividade do casal, de prosa boa e coração enorme. É essa doce lembrança que guardamos de Seu João Coco, que partiu sem perder a esperança em dias melhores, que hão de chegar para sua companheira e amigos que seguem na luta.

Seu João Coco veio à óbito dia 16 de setembro, por complicações de saúde, mas sabemos que as condições de vida na comunidade, que pioraram muito com a chegada da mineração, contribuíram para o seu adoecimento. Por isso, seguiremos denunciando esse modelo de mineração e o projeto Minas-Rio, marcado pela violência da multinacional Anglo American, que tem adoecido e matado nosso povo a cada dia, e seguiremos lutando pela reparação e garantia direitos das populações que tiveram suas vidas atravessadas pela ganância e sede de lucro do capital mineral.

Ao Seu João Coco, reafirmamos: nenhum minuto de silêncio, mas toda uma vida de luta contra a mineração que mata!
Seu João Coco, presente, presente, presente!

Movimento pela Soberania Popular na Mineração, 16 de setembro de 2020