Os municípios de Parauapebas, Marabá e Canaã dos Carajás têm números mais expressivos de casos de contaminação pela Covid-19 do que o restante da região no sudeste paraense. É o que apontam os dados coletados pelo MAM com a ajuda de pesquisadores, segundo informações da Secretaria de Saúde do Estado, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e Sistema de Informações Geográficas da Mineração (SIGMINE). É exatamente nessa região que a mineradora Vale atua com maior expressividade: só em Parauapebas, no complexo ferro Carajás, são cinco minas a céu aberto, a N4E, N4W, N5E, N5W e a N5S.

Dando seguimento ao levantamento de dados que correlacionam os casos de contaminação pela Covid-19 com o setor da mineração, destacamos o caso de Parauapebas, que é o segundo município com mais casos no Pará, na frente inclusive de outros municípios da região metropolitana do Estado. Em um comparativo, no dia 20 de maio eram 610 pessoas contaminadas pelo novo coronavírus no município e, quase um mês depois, em 17 de junho, subiu para 6.246 casos confirmados. Parauapebas só fica atrás de Belém no quantitativo confirmado da doença – já são 16.701 pessoas contaminadas na capital.

A região sudeste do Pará é a mesorregião responsável por mais de 60% das exportações de produtos minerais do Estado. Além dos números expressivos de Parauapebas, temos ainda os municípios de Marabá, onde funciona a mina do Salobo, o maior projeto de exploração de minério de cobre da Vale, com 2.304 casos confirmados de coronavírus, Curionópolis, com a mina Antas, também de cobre, com 518 pessoas contaminadas e Canaã dos Carajás, que registra 1.696 casos do novo coronavírus neste que é o maior projeto de exploração de minério de ferro do mundo, o S11D, antigo Projeto Serra Sul.

Os mapas elaborados pelo MAM e pesquisadores parceiros evidenciam a relação direta entre atividades de mineração e ampliação dos casos da Covid-19. A partir desses fatos, qualquer argumentação que tente sustentar que a mineração não é responsável pelo aumento de casos não passa de uma narrativa infundada das mineradoras que se empenham em continuar suas atividades, mantendo a remessa de lucros para seus acionistas independentes do número de mortes entre seus trabalhadores e moradores das cidades onde atuam.

O compilado é assustador: se pegamos o quantitativo de mortes por coronavírus em toda a mesorregião sudeste do Pará, que é de 499 (notificadas), dessas, 475 estão localizadas em municípios minerados. E dos 17.732 casos confirmados nessa mesmo mesorregião, 16.283 encontram-se dentro da lógica minerada. O que é alarmante é a correlação da continuidade das atividades minerárias, tidas pelo governo Bolsonaro como essenciais, com o número de infectados nos municípios. Há uma rede de contaminação quando se fala no mundo do trabalho da mineração, ainda mais em plena pandemia, onde a maior das recomendações para conter o novo coronavírus é o distanciamento social. Ter a presença de uma mina em atividade em pleno caos de saúde pública mundial é uma sentença de morte não só para seus trabalhadores, quanto para seus familiares e todos que ali circulam. No município de Paragominas, a Mineração Paragominas, de extração de bauxita, por exemplo, é possível ver o crescimento exponencial neste mesmo recorte de um mês: os números sobem de 172 casos na primeira quinzena de maio para 1.117 nesta agora, de junho.

Fica muito nítido como os municípios com intensa atividade minerária possuem um número muito mais elevado de casos suspeitos, confirmados e até de mortes por coronavírus. As cidades circunvizinhas que não possuem grandes projetos de mineração estão com poucos ou nenhum caso da doença. Importante frisar que diferente do que as empresas têm propagandeado, muitos dos casos confirmados não são diagnosticados pelos testes realizados pelas mineradoras, mas por testagens feitas pelas prefeituras após familiares ou trabalhadores apresentarem sintomas da doença.

Já em Ourilândia do Norte, que sofre com o projeto de mineração de extração de Níquel, o Onça-Puma, há ainda um outro agravante: além do crescimento de número de contaminados, que foi de 73 para 559 casos, neste mesmo intervalo de tempo supracitado, a mineração ali praticada está localizada próximo às Terras Indígenas (TIs) Kayapó e Xikrin do Cateté. De responsabilidade também da Vale, o projeto existe desde o ano de 2011 e já causou diversos danos para a região, como o afugentamento de fauna por conta das explosões nas minas e a contaminação do rio Cateté, que trouxe novas doenças aos povos da região.