José Neto, seu Neto, faleceu na comunidade Bandarro, Quiterianópolis – CE

O Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM) vem a público comunicar que nesta quinta feira, 26 de março de 2020, o camponês José Neto residente na comunidade Bandarro em Quiterianópolis veio a óbito depois de lutar incansavelmente contra um câncer de pulmão.

Nosso companheiro José Neto morava com sua família vizinho as instalações da Mineradora Globest Participações Ltda., que durante sete anos extraiu minério de ferro na Serra do Besouro que fica a algumas centenas de metros da sua casa. Desde o início da mineração em 2011, seu Neto, juntamente com outros camponeses/as, denunciavam que a poeira expelida pela atividade mineral que pairava sobre a comunidade Bandarro e o carreamento de rejeitos de minérios que inundam as vertentes do Rio Poty, eram e ainda podem ser prejudiciais para a saúde da população do entorno.

Seu Neto era um camponês valente que na sua juventude enfrentou como vaqueiro as pelejas de correr atrás de barbatões nos Sertões do Inhamuns. Gostava sempre de contar que quando chegou em Bandarro para fazer morada e constituir sua família, amava as terras férteis nas vertentes do Rio Poty porque tudo que se plantava, se colhia com muita fartura. Mas, dizia Ele, que depois que mineração iniciou, tudo desmoronou e ninguém teve mais sossego, inclusive a sua própria saúde que começou a dá sinais de fraqueza a partir de uma tosse que não parava.

Desde 2017, quando o MAM apresentou a situação ao Escritório Frei Tito de Alencar por considerar que esse caso de injustiças socioambientais da mineração ser um crime contra os Direitos Humanos, seu Neto, foi um grande lutador, mobilizava o povo e do seu jeito camponês de ser, denunciava os crimes da mineração contra o seu Território. Ele denunciava que outras pessoas na comunidade morreram porque engoliam muita poeira da mineração e que ele também ia no mesmo caminho.

A gravidade do quadro de saúde do seu Neto foi apresentada aos órgãos competentes, inclusive à Prefeitura Municipal de Quiterianópolis, reivindicando um atendimento e estudo minucioso da causa da sua doença, pois sempre pesou a suspeita de que teria relação com a mineração, no entanto, o diagnóstico e o tratamento especializado não chegou a tempo. Assim, até que se prove ao contrário, afirmamos que a morte precoce do seu Neto, pode ter tido sim relação com a mineração.

Por isso, denunciamos o descaso e a morosidade que os órgãos públicos na oferta do atendimento adequado. Exigimos que o Poder Público realize um amplo estudo epidemiológico da região que possa detectar as doenças que surgiram e se agudizam depois que a mineração chegou naquele território, pois outras vidas não poderão ser ceifadas devido o descaso da mineradora Globest e do próprio Estado.

Nos solidarizamos com a família do seu Neto e com toda comunidade que juntos seguem lutando contra a indústria da mineração que continua disseminando a miséria e a morte nos territórios Brasil afora. Continuaremos na luta em prol da conquista de territórios livres de mineração e pela garantia plena dos direitos humanos. Ao Seu Neto, reafirmando que não haverá mais nenhum minuto de silêncio, mas toda uma vida de luta e denúncia contra a mineração que mata!

Seu Neto, presente, presente, presente!

Por um País Soberano e Sério, Contra os Saques do Nosso Minério!